sexta-feira, 18 de junho de 2010

Qué pasa?


Dá pra entender a quantidade de filmes argentinos com enredos policiais. A vida real aqui é um prato cheio para qualquer roteiro. Nessa semana, muito mais que os quatro gols cravados pela Argentina na Coréia do Sul, nos surpreendeu a notícia de uma série de suicídios de jovens e adolescentes ocorrido num povoado da província de Salta: Rosário de La Frontera.

Los chicos, sempre na faixa dos 12 aos 18 anos, levaram a cabo a idéia de asfixiarem-se com um objeto azul, geralmente um cachecol ou uma gravata, após receberem uma mensagem de texto pelo celular, supostamente enviada por um instigador. Estariam participando de um ritual que a princípio deveria proporcionar felicidade após alguns minutos sem oxigênio. Seria essa a proposta, se muitos deles não tivessem sido vítimas fatais do chamado “Juego de la muerte” que se difunde primeiramente pela internet e termina com a malfadada ordem de enforcamento vinda pelo celular.

Só nesse ano foram sete estranhas mortes, três delas nos últimos dias, sem contar as outras dez tentativas frustradas. Os que sobreviveram não sabem explicar porque o fizeram, dizem terem sido levados por um vento leve que os conduzia a fazer aquilo. Na escola de uma das vítimas chegou-se a encontrar uma lista, redigida em caneta vermelha, com os nomes e a as datas dos próximos enforcamentos. Uma das mães contou desesperada que a filha teria profetizado que se enforcaria no balanço de casa, em breve, como se estivesse hipnotizada, o que lhe fez mandá-la para casa de parentes numa cidade vizinha. As investigações não são conclusivas e, obviamente, o terror se espalhou, levando a “um estado geral de psicose”, como relataram vários jornais argentinos hoje.

E, como tudo que é incerto gera especulações e faz com que as pessoas deixem solta a imaginação, várias hipóteses correm à boca pequena na cidade. Uma delas, assustadora, diz que uma mente superior subordina e hipnotiza as crianças para que se matem: “un pueblo tomado por el espírito maligno del diablo”. Há quem diga, também, que aparições de uma das garotas mortas estariam ocorrendo ali.

Em nada disso parece acreditar o pároco que por muito tempo serviu a pequena comunidade e que agora retorna para consolá-la: “ante lo que no se puede explicar, la gente recurre al oscurantismo”, diz Gustavo Barreda. Sua aposta é que os enforcamentos são decorrência tão só de uma história antiga e própria dos adultos: a de não escutar seus filhos, não dialogar!

Seja lá o que for, o caso de Salta é mais atemorizador que qualquer thriller campeão de bilheteria, porque até agora não subiram os créditos confirmando-nos de que se trataria de ficção, trata-se da mais dura e cruel verdade. Enquanto isso, milhares de “carteles” seguem espalhados pelo país, numa convocatória geral: Vamos, Argentina! É tempo de mundial!


* Salta é uma província (o equivalente a um estado brasileiro) do noroeste argentino, a leste da Cordilheira dos Andes, onde está o famoso trem das Nuvens que sobe até quase 5.000 metros de altitude e termina na fronteira com a Bolívia. * Rosario de La Frontera é um povoado com menos de 30.000 habitantes, dentro da Província de Salta e é roteiro turístico por suas águas termais.

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