domingo, 26 de setembro de 2010

Caraca!



Não!Não se trata de uma disenteria coletiva, embora a cena mais comum ao se chegar ao aeroporto de Caracas é a de viajantes, em pares, se dirigindo ao banheiro logo após desembarcarem. Os mais ingênuos podem supor que seja apenas atenção às necessidades mais básicas do ser humano ao final de um vôo, mas é só observar um pouquinho mais que se verá que a visita “al baño” nada mais é que o hábito de trocar dólares por bolívares no mercado negro do país.No oficial, atualmente, um dólar vale um pouco mais que quatro bolívares, enquanto no mercado negro a cotação é de um por sete ou até oito, dependendo da quantidade trocada. Evidentemente, as casas de câmbio oficiais ficam às moscas e praticamente todo mundo recorre à ilegalidade para fazer valer o dinheiro.

No mesmo saguão, enquanto um faz dólares virarem bolívares fazendo xixi, outro observa os enormes cartazes com fotos do presidente e de sorridentes venezuelanos satisfeitos com os índices do “socialismo”.

Na rua, o outdoor gigantesco da marca Heinz (de ketchup e mostarda – deliciosos, aliás) parece não combinar muito com o que fica ao lado, mais uma vez de Chávez, entoando como um mantra incentivos à revolução!

Ao chegar ao quarto do hotel: iluminação indireta, cozinha completa, carpetes no piso mesmo numa cidade quente e úmida e ar-condicionado ligado no último nos dá a sensação de estarmos, na realidade, num hotel em Miami. Aliás, surpresa! Desde que chegamos ao bairro do hotel, não vejo mais os outdoors e cartazes de Chávez e da Revolución espalhados pelo caminho. É aí que o ketchup Heinz começa a fazer um pouco de sentido...

Passam por coisas do tipo as excentricidades que se podem observar nessa cidade, aliás, nessa região metropolitana (vim a descobrir que Caracas é formada, na verdade, por quatro municípios cujos limites são como os de bairro em uma grande capital).

Nunca pensei ser possível a coexistência de duas tendências igualmente fortes e antagônicas. No shopping Center, a prestadora de serviços de telefonia móvel estatizada divide espaço com lojas como Carolina Herrera, Oscar de la Renta, Longchamp, Montblanc e até a badaladíssima Max Azria, mas não se pode dizer que o lugar seja luxuoso, a impressão que se dá é de um shopping popular, não fosse pela presença das grifes. Numa loja no estilo Leroy Merlin, surpreende a quantidade de produtos importados (não da China, mas do EUA) e de itens para bricolagem...Na praça de alimentação, inúmeras grandes redes de fast food: KFC, Mc Donald´s, Friday´s, Wendy´s, Hard Rock Café...

Soa-me incrível que uma população que ao que tudo indica adora o “american way of life” esteja se tornando socialista! Entrar na estação de metrô e pagar U$1,00 por dez bilhetes, contudo, faz minha cabeça fundir de vez com essa convivência contraditória.

Well, fue sólo el primer día en la capital venezolana! Hoje é dia de eleições. A arepa vai vencer ao hambúrguer?


A tempo: estamos dando uma curta escapada da terra do malbec!

Um comentário:

  1. Querida,

    Eu trocaria o Chavez fácil, por dois tubos de Heinz (ketchup e mostarda)! E creio que seria uma troca prá lá de justa. Te desejo mais viagens a Montevideu e que jamais tenha que voltar a Caracas. Bjs

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